A proposta do projeto consiste em utilizar os materiais que os estudantes tinham em suas residências, sem a obrigatoriedade de um material específico, e caso necessário, poderiam recorrer aos mantimentos culinários, como por exemplo, açafrão e repolho roxo.
Vale lembrar que devido a pandemia da Covid-19, as aulas estão sendo ministradas na modalidade remota e os conteúdos enviados via canais disponíveis.
A educadora explica que a participação dos discentes superou as expectativas, justificada pela interação constante da turma.
“Eu disponibilizei três formas para que pudessem enviar esse trabalho: no e-mail, uma ferramenta especifica do colégio e também pelo WhatsApp, ou seja, em um momento do dia que eles tinham disponibilidade para fazê-lo. Foi disponibilizada uma receita do pigmento natural, então eles ocupavam a mente com algo diferente”, disse.
Em relação à escolha dos temas, Lideilma conta que algumas dicas com diversas referências locais foram apresentadas aos alunos como forma de inspiração.
“Bolo de arroz, viola de choco, ganzá, os instrumentos mato-grossenses, tudo isso eu mostrei para eles para que tivessem a oportunidade de fazer uma obra de arte homenageando Cuiabá, não somente com paisagem, mas com instrumentos e vários desenhos diferentes saíram”, pontuou.
A disciplina, explica a professora, também tem como finalidade auxiliar os estudantes a gerir seus sentimentos através da arte, como um estímulo a essa nova realidade.
“Às vezes eles ficam parados, vendo somente as situações negativas que estão acontecendo, sem encontrar alternativas para continuar, expressando o que eles sentem e gerenciar suas emoções, ou seja, ter um momento para eles, um autocuidado”, destacou.
Para a aluna Gabrielle Machado, que retratou em sua arte o siriri e cururu, as aulas da professora Lideilma são suas prediletas e despertam a ampliação sua visão artística.
“Para mim a importância desse trabalho está na homenagem aos 302 anos de Cuiabá. Toda cultura deve ser preservada, mantendo as tradições e trazendo conhecimento à sociedade. Me inspirei no siriri e cururu. Os ensinamentos de arte sempre foram meus favoritos, é uma forma de despertar a criatividade do aluno, permitindo que ele expanda sua visão artística”, contou.
Ao ser questionada se pretende futuramente ingressar no ramo artístico, ela afirma que não, entretanto, ressalta que admira e valoriza a área.
Segundo Bruno Oliveira, que também participou da dinâmica, a pintura, em seu ponto de vista, é como uma maneira de revigorar e exaltar a cultura afro-brasileira e destacou sua tarefa retratando a Mãe Bonifácia, que foi homenageada dando nome a um parque urbano aqui em Cuiabá, inaugurado em 2000.
“É imprescindível, extremamente necessário, pois a sociedade é construída também pela cultura. Quando uma cultura acaba, junto a ela se vão costumes, credos, religiões e o conhecimento de determinado povo e sem o conhecimento, as pessoas são vazias”, ressaltou.
“Na história da Mãe Bonifácia, uma mulher negra, alforriada, curandeira que supriu as necessidades dos povos escravizados na região. Sempre buscou fazer o bem, acolher em busca da justiça, e quando precisou de ajuda pra tratar da suposta causa de sua morte (varíola), foi deixada para morrer em meio à cidade”, completou.
Bruno ainda salienta que a disciplina quando colocada em ação, se converte em uma ferramenta eficiente, capaz de transformar todos os ambientes, colocando-a como segunda opção em sua trajetória acadêmica.
“Representam uma essencial didática de uma prática que é capaz de libertar o artista do mundo, capaz de mudar o meio, de transformar tudo. Pois a arte não se prende apenas à realidade humana, a arte transcende qualquer sentimento humano. Sim, como uma segunda faculdade, pretendo fazer artes plásticas, pra não perder a magia da arte na minha vida”, relatou.
Na sequência, a estudante Luana Lanae conta que seu estímulo se deu através do contato cotidiano pelas ruas do município, jeito este que ela encontrou para representar sua cidade, novamente o siriri e cururu.
“Bom, vivendo em Cuiabá, mesmo que sutil, temos contato com a arte cuiabana nas ruas, e com esse trabalho pude representar a cultura da minha cidade do jeito que eu mais gosto, o desenho, inspirado na dança do siriri e cururu. Acho muito importante a preservação da cultura que carrega toda a história de Cuiabá, para que as gerações futuras conheçam suas raízes”, reforçou.
Sobre a escolha de cursar a faculdade de artes, Luana afirma que tem este desígnio e enalteceu o ofício desempenhado pela professora.
“O desenho para mim é uma forma de me divertir e de me expressar. A professora Lideilma está fazendo um trabalho incrível, estimulando a criatividade e o lado artista de cada um, é a aula que me dá mais prazer”, elencou.
De acordo com Lia Aisha, o projeto trouxe à tona uma reflexão sobre a cultura e as belezas que Cuiabá carrega.
“A proposta do trabalho me fez parar para refletir e apreciar um pouco a cultura da nossa cidade, e foi importante para percebermos mais uma vez a beleza que está ao nosso redor, assim como as histórias que a cidade carrega. A cultura de um povo é sua identidade, preservá-la é uma forma de manter nossas tradições e as memórias da história vivas” disse.
O diferencial do seu desenho foi a afinidade com as apresentações de siriri e festas religiosas ainda quando criança, fator determinante na elaboração dela, aprendizados que levará para vida.
“É um dos meus sonhos seguir uma carreira que envolva arte, porém, no momento é apenas um hobby que gosto muito. Na minha infância assisti diversas apresentações de siriri em festas de santos, então me inspirei um pouco nisso. Acho que a arte é a melhor forma de expressão, aprender sobre ela nos ajuda a abrir a mente e compreender outras pessoas, com outras histórias e culturas, até mesmo aquelas que viveram muito antes da gente, e por meio dela nós mesmos podemos nos expressar, por isso as aulas de arte são de grande importância para mim.
Este é o primeiro trabalho de artes da instituição de ensino de 2021 que prezou pela preferência do tema regional, despertando o potencial criativo dos participantes.
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